Se Eu Fosse um Monstro de Granito
Se eu fosse um monstro de granito, viveria perto de uma pedreira para que nunca me faltasse alimento. Às refeições, comeria calcário, basalto, ardósia… E o melhor deixava para o fim… mármore.
De madrugada ao pôr-do-sol, trabalharia num estaleiro e esculpiria estátuas de santos para a igreja da paróquia. Todas as minhas criações teriam a boca aberta num sorriso e seriam obrigatoriamente felizes. Nos braços, embalariam instrumentos musicais para que pudessem acompanhar o coro na Igreja. São Simão sopraria numa flauta, Santiago dedilharia as cordas de uma harpa e São Pedro tocaria guitarra elétrica. Os ferrinhos seriam sorteados pelos restantes pois todos os santos os querem para si.
Aos fins de semana, alugaria um camião de carga e levaria as estátuas a passear pela Serra. Iriam todas precavidas com óculos de sol para não ficarem encandeadas com o brilho da neve e rolariam encosta abaixo a brincar às avalanches. De sábado para domingo, dormiriam de pé nas vertentes das montanhas debaixo de neve.
Domingo à tarde, regressaríamos a casa, mas, no caminho, pararíamos numa esplanada de umas termas quaisquer para beber uma água das pedras. Enquanto estivesse sentado à mesa, apreciaria os turistas, todos eles à volta de fontes de água medicinal a encher garrafões.
Sorriria por ver que ninguém se sentia mal na minha presença. Cantaria por saber que a minha voz cavernosa era apreciada. Festejaria por saber que nunca na vida iria adoecer ou quebrar um osso. Um monstro de granito não tem ossos para quebrar, como devem calcular. Nem febres altas, como é óbvio. Ah, se eu fosse…
Centro Escolar de São Simão de Litém, Turma B, 3.º e 4.º anos
Agrupamento de Escolas Gualdim Pais